domingo, 14 de julho de 2013

Alexandra David-Néel

Alexandra David-Néel is maybe the coolest lady explorer ever. As well as exploring the East extensively at a time when ladies were not encouraged to travel on their own, she was a spiritualist, Buddhist and writer. Born in 1868 in Paris, by the time she was 18 she’d travelled extensively around Europe and was a member of the Theosophical Society. She wrote her first book when she was 30, and when she was in her forties she travelled to India to study Buddhism, met a prince, and possibly had an affair with him. During her extensive travels in Asia, she lived in a cave, adopted a monk (yes, adopted) and travelled to Tibet at a time when it was closed to foreigners. In Tibet she met and hung out with the 13th Dalai Lama and the Panchen Lama, which no European lady had ever done before. She kept travelling with her adopted monk companion until she was 78. She kept writing about her travels and spirituality until she died AT THE AGE OF 101. Also, she opted for a double-barrelled surname when she married, instead of ditching her name in favour of her husband’s. An amazing woman.

domingo, 7 de julho de 2013

As bebidas de baixo teor calórico matam


Quando vi a nova publicidade de combate à obesidade da Coca-Cola fiquei de queixo caído. É isso mesmo… A Coca-Cola embarcou na nova missão de combater a epidemia de obesidade que assola o mundo. Na minha opinião, não passa de uma tentativa desesperada para travar o declínio das vendas. O mais triste é que algumas pessoas caem mesmo na esparrela. Na publicidade, «tenta-se» defender que os produtos da Coca-Cola podem perfeitamente fazer parte de uma alimentação «saudável».
A Coca-Cola promove a introdução de novas bebidas com baixo teor calórico, recorrendo à lógica falhada de que «uma caloria é sempre uma caloria», para convencer as pessoas com excesso de peso a incluir os seus produtos nas suas dietas de emagrecimento. Mas sabem uma coisa? Uma caloria nem sempre é bem uma caloria – sobretudo se for composta por substâncias químicas que afectam a quantidade de alimentos que consumimos e a forma como o nosso corpo metaboliza essas substâncias.
Assim, o que pretendo aqui é explicar-vos o que se passa e, nomeadamente, a razão pela qual as bebidas de baixo teor calórico da Coca-Cola não combatem nada a obesidade (aliás, o consumo repetido de bebidas com baixo teor calórico cheias de substâncias químicas só perpetua e agrava o problema). Apresento-vos provas em que essas bebidas nunca deixarão de estar ligadas ao aumento da obesidade.
Se quiserem ver o vídeo do anúncio, encontram-no no fim desta publicação, mas não o recomendo (a não ser que se queiram rir), porque não merece a vossa atenção e preferia que se concentrassem na verdade que passo a partilhar convosco.
(E, quando virem este anúncio na TV, sugiro que gritem, tal como eu penso fazer.)
Citações do Anúncio de Combate à Obesidade da Coca-Cola:
«A unir as pessoas há mais de 125 anos»
A sério?? Como? Pela venda de produtos a adultos e crianças que estão associados ao desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas e obesidade? Hmmm… O que dizem de gastar milhões de dólares para impedir o consumidor de exercer um direito seu que é o de saber se os produtos que consome contêm ou não OMG? Isso é unir as pessoas? A única coisa que conseguem é ser uma empresa inimiga que as pessoas deviam boicotar.
«Lançámos porções menores dos nossos produtos mais populares que, até ao fim deste ano, chegarão a cerca de 90% dos pontos de venda»
Uma lata mais pequena de veneno em nada contribui para combater a obesidade, mas obrigado.
«Qualquer produto, incluindo os nossos, tem calorias. Se consumirem mais calorias do que as que queimam, ganham peso.»
Já vos explico o que esta lógica tem de incorrecto…
«Temos mais de 650 bebidas que já incluem acima de 180 com baixo teor calórico ou sem calorias e a maioria das que contêm calorias já apresenta versões não calóricas ou com baixo teor calórico. Nos últimos 15 anos, contribuímos para a redução em cerca de 22% do consumo médio de calorias por porção nos EUA.»
É aqui que quero analisar melhor as bebidas de baixo teor calórico a que se refere a Coca-Cola. Seguem-se alguns exemplos e os ingredientes que essas bebidas contêm.



Os Adoçantes artificiais estão Associados à Obesidade e a Diversas Doenças
É claro que as bebidas com adoçantes artificiais contêm menos calorias, mas em nada contribuem para reduzir o risco da obesidade ou do desenvolvimento de tumores.
O consumo de adoçantes artificiais não é benéfico, nem funciona como estratégia a longo prazo para quem tem excesso de peso. Está provado que os adoçantes artificiais acentuam o apetite, aumentam o desejo de consumir hidratos de carbono, promovem o armazenamento de gorduras e contribuem para o aumento de peso.
É isso mesmo: o consumo de adoçantes artificiais abre-vos mesmo o apetite. Pensem nisso. Sempre que consumimos alimentos/bebidas doces, sejam elas com poucas ou nenhumas calorias, o nosso cérebro recebe instruções para desejar mais calorias, porque o organismo não está obter energia (ou seja, calorias suficientes) suficiente para ficar satisfeito. Então, a pessoa não se sente gratificada e deseja mais.
É inacreditável que a Coca-Cola e outros gigantes da indústria alimentar continuem a safar-se com este «engano orquestrado» e que insistam em afirmar que as bebidas de baixo teor calórico contendo adoçantes artificiais ajudam a combater a epidemia de obesidade. A sério? Mas a quem tentam enganar?
Para além disso, os adoçantes artificiais provocam efeitos secundários mais perigosos, sobretudo o aspartame, que é considerado uma das substâncias mais perigosas permitidas na indústria alimentar. Bebidas como a Powerade, a Coca-Cola Diet, a Coca-Cola Zero, a Dr. Pepper Diet, a Fanta Light, a Fuze, a Minute Maid Light, etc., contêm aspartame.
Desde 1980, a FDA já recebeu mais de 10 000 queixas por causa desta substâncias cuja utilização segura nunca foi comprovada. O apartame está associado ao desenvolvimento de diabetes, doenças auto-imunes, depressão (que nos pode levar a comer mais, lá está), defeitos nos bebés em gestação e vários tipos de cancro.
O «eritritol» que faz parte da composição da Vitamin Water Zero é um álcool açucarado que o organismo não consegue digerir com facilidade e está associado ao desenvolvimento de diarreia, cefaleias e outros problemas intestinais.
O acesulfame de potássio, ou acesulfame K, é um dos principais adoçantes das bebidas de baixo teor calórico dirigidas ao público infantil, como por exemplo, a Minute Maid Fruit Falls e a Monster Zero. Segundo o Center for Science in the Public Interest (CSPI) esta substância não é, de modo algum, segura. O CSPI refere que os testes de segurança do acesulfame-K realizados nos anos 70 não foram adequadamente conduzidos. Em particular, dois estudos realizados em ratos sugerem que esse aditivo pode provocar cancro, mas a FDA não analisou esses estudos FDA antes de aprovar a utilização não regulada da substância em refrigerantes. Para além disso, já se demonstrou que doses elevadas de acetoacetamida (um produto resultante da decomposição deste açúcar) afectam a tiroide em ratos, coelhos e cães. Como sabem, a glândula tiroide regula o sistema endócrino responsável pelo nosso metabolismo.
Se a Coca-Cola quisesse realmente melhorar a sua oferta, teria eliminado imediatamente a utilização de adoçantes artificiais nos seus produtos.

Os Aromas Naturais Fazem os Consumidores Beber Mais
Ao produzirem bebidas de baixo teor calórico/sem calorias com o «sabor autêntico», a Coca-Cola «engana» as papilas gustativas, uma a uma. Os cientistas alimentares criam aromas naturais que provocam incapacidade para parar de comer ou beber. Todos os supracitados produtos da Coca-Cola incluem aromas naturais. Esses aromas naturais que os cientistas sintetizam enganam a mente, levando-a a desejar sempre mais. A intenção deles não é proporcionar-nos a verdadeira essência do morango ou do coco e sim fazer-nos sentir apenas a melhor milionésima parte do sabor e desenvolver em nós um «vício». Ou seja, assim, criam a vontade de querer sempre mais, em busca de satisfação. E se consumirmos mais esse produto, enchemos os bolsos da Coca-Cola e de outras empresas alimentares semelhantes.
É um truque utilizado em muitos produtos – não só em bebidas – e o mais prevalecente nas bebidas com baixo teor calórico. Algumas versões do produto da Coca-Cola, Zico – uma água de coco – utilizam aromas naturais para disfarçar a utilização de cocos de diferentes espécies e com aromas, todos processados num «concentrado». A água de coco é reduzida a xarope e, depois, reconstituída em água. Para manter a consistência do sabor, têm de adicionar aromas naturais e isso leva a que obtenham um produto de qualidade inferior, resultante da mistura de diversas espécies de coco que perderam a sua integridade, o seu sabor e o seu valor nutricional originais.
Os Corantes Artificiais Atraem os Adultos e as Crianças, Levando-os a Consumir Bebidas Nocivas para a Saúde
A utilização de corantes artificiais nos alimentos contribui para a epidemia de obesidade, porque atrai as crianças (e os adultos), levando-as a consumir falsas bebidas doces quase totalmente desprovidas de valores nutricionais. É mais um dos esquemas de marketing da Coca-Cola, com o intuito de tornar cada vez mais pessoas viciadas nos seus produtos.
Para além disso – é importante notar – que o corante de caramelo utilizado pela Coca-Cola e outros gigantes da indústria dos refrigerantes, como a Pepsi, é completamente artificial e nada tem que ver com aquilo que fazemos em casa, derretendo açúcar. Esse corante de caramelo é feito com amoníaco e sulfitos aquecidos a alta pressão que criam compostos carcinogénicos. Está provado que doses elevadas desse famoso carcinogénico provocam tumores no fígado, nos pulmões e na tiroide a ratos e ratazanas.
Quando o Center for Science in the Public Interest lançou um estudo no ano passado revelando a possível contribuição de níveis perigosos dos corantes de caramelo para milhares de cancros nos EUA, a Coca-Cola e a Pepsi apressaram-se a alterar as suas fórmulas, de modo não serem obrigadas a colocar nos seus produtos rótulos com advertências relativas ao cancro na Califórnia.
Apesar da reformulação, muitos dos produtos da Coca-Cola ainda contêm esse corante de caramelo mas em menor quantidade. Que doses de veneno se dispõem a consumir regularmente?




O Consumo Excessivo de Cafeína Provoca Dependência e Fadiga Adrenal
Se muitas bebidas com baixo teor calórico da Coca-Cola contêm cafeína é para nos viciar. O estímulo da cafeína juntamente com o sabor doce faz-nos querer mais. Uma das bebidas mais alarmantes no mercado é a Monster Zero que nos pode afectar directamente a função da glândula adrenal e provocar em nós um persistente estado de exaustão. O que é que acontece quando as pessoas se sentem continuamente exaustas? Ficam quietas… e ganham peso.
Neste momento, a bebida energética Monster está a ser processada por várias famílias por suspeitas de ter causado a morte aos seus entes queridos. Apesar dessas acções e do recente relatório da FDA acerca dos perigos das bebidas energéticas, a Monster continua à venda no mercado.

Os Organismos Geneticamente Modificados, ou OMG, estão associados à Obesidade
Todos os produtos da Coca-Cola aqui referidos devem conter OMG. Isto porque incluem produtos derivados do milho, como sorbitol, frutose, aspartame, maltodextrina, ou ácido cítrico. E por que outro motivo teria a empresa gastado milhões de dólares contra a obrigação de incluir informação sobre o uso de produtos OGM nos seus rótulos na Califórnia? Só pode ser por ter carradas deles nos seus produtos!
Um estudo publicado no International Journal of Biological Sciences demonstra que os alimentos contendo OGM contribuem efectivamente para a epidemia de obesidade. Segundo esse estudo, os ratos que consumiram milho transgénico registaram um aumento de 3,7 % no peso total e de 11 % no peso do fígado.
A American Academy of Environmental Medicine (AAEM) apresentou estudos que comprovam que os OGM provocam uma má regulação da insulina e aconselha os seus pacientes a não consumirem alimentos com produtos transgénicos.

Os Conservantes Aceleram o Processo de Envelhecimento e Acidificam o Organismo
Quase todos os produtos da Coca-Cola incluem conservantes como o benzoato de sódio. A Mayo Clinic concluiu que este conservante poderá aumentar a hiperactividade nas crianças. Para além disso, combinado com ácido ascórbico (Vitamina C) o benzoato de sódio pode criar um carcinogénico que elimina as células de ADN e acelera o processo de envelhecimento.
Os conservantes aceleram o processo de envelhecimento, porque acidificam o organismo. O Dr. Jameth Sheridan (D.H.M.), especialista em Medicina Holística, diz que depois do consumo de um só refrigerante com baixo teor calórico, o corpo precisa de 36 copos de água para repor a alcalinização!
No estado alcalino, o organismo corre muito menos risco de desenvolver doenças, do que no estado acídico. Isto porque o nosso organismo se compõe de milhares de milhões de células naturalmente alcalinas, de acordo com os seus níveis de ph. Se consumirmos mais alimentos ácidos (como por exemplo muitas das bebidas de baixo teor calórico da Coca-Cola) do que alcalinos, desequilibramos o nosso ph natural e podemos desenvolver vários problemas nos órgãos que nos regulam o metabolismo e o peso.

O Bisfenol A (BPA) das Latas está Associado à Obesidade
Com base nos mais de 3000 casos de crianças e adolescentes que apresentavam níveis elevados de BPA na urina e um índice de massa corporal excessivo, um estudo recente conclui que o BPA está associado à obesidade infantil. Apesar de já se ter proibido a utilização de BPA nos biberões, as crianças não deixam de consumir produtos da Coca-Cola contaminados com essa toxina ambiental.
A Coca-Cola recusa-se terminantemente a eliminar o BPA dos seus produtos e chega mesmo a defender a utilização deste composto nocivo para o metabolismo no seu website.

A Frutose & e o Sumo de Fruta Concentrado – Demasiado Açúcar para o Organismo Processar
Encontramos frutose cristalina na Vitamin Water Zero que é feita com amido de milho (transgénico), 20% mais doce do que o açúcar. No nosso organismo, a frutose é processada de forma diferente dos outros açúcares, e está associada à doença hepática gordurosa, à cirrose, à doença arterial coronária e à obesidade.
A Coca-Cola declara ter contribuído para a decisão de substituir os refrigerantes dos sumos nas escolas. (Isso não é bem verdade, uma vez que a empresa até contestou a retirada das máquinas dispensadoras nas escolas). Não obstante, esses sumos compõem-se sobretudo de concentrados de sumo de frutas e pouco fazem para resolver o problema da obesidade.
Na realidade, o consumo regular de concentrado de sumo de fruta acumula açúcar no fígado, aumentando o risco de desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas e obesidade.
Por exemplo, o sumo de fruta da Minute Maid pode conter bastante frutose pura, sem a fibra, a polpa, ou as enzimas vivas que ajudam o organismo a digerir devidamente o açúcar.
Um bar de smoothies patrocinado pela Coca-Cola que servisse frutas verdadeiras com todas as suas propriedades, seria uma solução MUITO melhor – digo eu.
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Resumindo, no fim do seu anúncio, a Coca-Cola convida-nos…
…«a descobrir mais, consultando o site coke.com/comingtogether”
Ah! Que giro. Quando os porcos voarem! É a última fonte a consultar para quem quiser descobrir a melhor forma de resolver o problema da obesidade.
Se conhecerem alguém que ainda consuma produtos da Coca-Cola – e sobretudo as bebidas de baixo teor calórico ou zero – façam-lhes o favor de lhes dar a conhecer este artigo.
Podem tornar-se heróis para elas!


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os Estados Falidos são um Mito Ocidental

Autor: Elliot Ross



A boy walks past a bullet-scarred building in the Yemeni capital, Sana'a.
Um menino passa diante de um edifício crivado de buracos de balas na capital iemenita, Sanaa. «Rejeitada pelos académicos, a noção de estado falido encontrou lugar no confuso espaço da frívola análise política que impregna grande parte dos diálogos nacionais.» Fotografia: Yahya Arhab/EPA

Na mesma semana que o repórter de investigação, Jeremy Scahill, referiu que os EUA deviam «tomar um comprimido de humildade», fomos sujeitos ao preciso oposto – a mais um fascículo do Índice dos Estados Falidos anual da revista Foreing Policy, acompanhado de «postais do inferno», com o intuito de nos mostrar como é «viver na corda bamba, nos piores locais do mundo».
É tentador jogar com as variadas afirmações bizarras do Índice (diz-nos que o Quénia é «menos estável» do que a Síria), mas a verdade é que tais lamúrias servem unicamente para dar credibilidade a este entediante exercício anual em pequenez cultural falsamente empírica. Para as pessoas realmente interessadas em saber mais sobre locais como o Iémen ou o Uganda, o índice será a última coisa a consultar. Mas mais interessante ainda – e mais útil para se compreender para que serve efectivamente o índice – será entender que o próprio conceito de «estado falido» tem a sua história.
A organização que elabora o índice, a Fund for Peace, é o tipo de entidade que John le Carré utilizaria para nos provocar pesadelos. O director, J.J. Messener, (que produz a lista), é um ex-lobista da indústria militar privada. Nenhum dos dados originais em que se baseia o índice chegou a público. Então, o que raio levaria uma organização como esta a querer perpetuar e intensificar a noção do estado falido no discurso público?
A principal razão é que o conceito de estado falido nunca existiu fora do âmbito dos programas para a intervenção ocidental. Constitui sempre uma forma de desenvolver pretextos para a imposição dos interesses norte-americanos sobre as nações menos poderosas.
Felizmente, podemos identificar a origem de tudo – com números de página e tudo. O estado falido foi inventado nos finais de 1992, por Gerald Helman e Steven Ratner, dois funcionários governamentais dos EUA, num artigo publicado pela revista – é isso mesmo ‑ Foreign Policy, sugestivamente intitulado, «Salvar os Estados Falidos». Os autores argumentam que, com o fim da Guerra Fria, «surge um novo fenómeno perturbador: o estado-nação falido, completamente incapaz de se suster, no seio da comunidade internacional». Assim nasceu o monstro.
O artigo continua com uma versão rabugenta da história do «terceiro mundo» após 1945, em que Helman e Ratner lamentam o facto de as reivindicações de «autonomia» por parte dos povos colonizados ter sido instituído como um dos princípios fundamentais da organização das questões internacionais. Na opinião de Helman e Ratner, a queda do Muro de Berlim marcou o fim de ninharias como a soberania dos estados das nações do terceiro mundo. Do que esses estados falidos precisavam era da sempre benigna «tutoria» do mundo ocidental. É evidente que nós, os ocidentais, mantínhamos a nossa soberania, enquanto eles teriam de se contentar com aquilo a que se chama «estado de sobrevivência» e ser gratos por isso.
A peça de Helman e Ratner desenvolve-se em torno de um famoso mas pouco lido relatório das Nações Unidas, da autoria do então secretário-geral Boutros Boutros-Ghali, publicado uns meses antes. Na sua Agenda para a Paz, Boutros-Ghali recomenda um papel mais abrangente da ONU, na resolução das crises internacionais, mas insistindo em que a soberania dos estados permanecesse um princípio inviolável. Se Helman e Ratner demonstrassem concordar com essa opinião precisamente oposta à deles, não havia mais nada a dizer, certo?
Nos anos 90, poucos cientistas políticos manifestaram interesse pelo conceito de estado falido que descartaram desde logo. O problema era em nada contribuir como modo de análise: uma guerra civil é uma guerra civil. Fome é fome. Uma crise política é uma crise política. Um estado falido não passa de retórica sem uma base teórica ou histórica substancial.
Rejeitada pelos académicos, a noção de estado falido encontrou lugar no confuso espaço da frívola análise política que impregna grande parte dos diálogos nacionais. A Foreign Policy deu-lhes uma espécie de vida nova, ao publicar o seu índice anual a partir de 2005, numa altura em que se tornava cada vez mais notório o desastre que representavam as guerras no Iraque e no Afeganistão, ambas justificadas como «intervenções humanitárias».
Previsivelmente, feita à medida para defender essa interferência dos EUA no estrangeiro, a expressão também surgiu na literatura produzida entre 2001 e 2005 que criou a nova norma internacional da responsabilidade a proteger (R2P) – doutrina cuja aplicação pela comunidade internacional até à data só pode ser descrita como altamente selectiva.
Por mais métrica da «estabilidade» que tente misturar, o índice dos estados falidos nada tem de empírico ou objectivo. Não interessa muito onde aparece determinado país em dado ano. É pura e simplesmente um absurdo colocar a história numa tabela de classificações e, vendo bem as coisas, o índice diz a mesma coisa todos os anos: que os EUA deveriam ser uma espécie de regulador global a que se deveria submeter o resto do mundo.
É uma noção que só oferece ao público americano uma versão do mundo que nada tem que ver com a realidade, mas que funciona muito bem para racionalizar as intervenções passadas e presentes no estrangeiro.